Romário acusa traição de Teixeira e diz não se ver mais como político
O verbo “acusar”, de acordo com a construção sintática em que aparece,
pode mudar de significado. Como termo jurídico, é transitivo direto e
seu complemento é um termo que indica “pessoa” (acusar alguém). Nessa
acepção, admite ainda o segundo complemento (indireto, introduzido pela
preposição “de”), que se refere ao crime (acusou o deputado de
peculato).
Para atribuir característica negativa a alguém, também se usa o verbo
“acusar”, em construções do tipo “acusou-o de corrupto”, “acusou-o de
covarde” etc.
O mesmo verbo, porém, seguido de objeto direto que não seja “pessoa”,
ganha outro sentido. É o que observamos em “o exame acusou a presença de
nódulos nos gânglios” ou “os cabelos brancos acusavam-lhe a idade” (em
que o pronome “lhe”, grosso modo, tem o valor do possessivo “sua”, com o
sentido de “acusavam sua idade”). Nesses casos, “acusar” significa
“revelar”, “tornar conhecido”.
Feita a distinção, convém observar com cuidado a manchete que epigrafa
este texto. Afinal, Romário acusa traição de Teixeira ou acusa Teixeira
de traição? São coisas diferentes.
Ao dizer que “Romário acusa traição de Teixeira”, o redator quer
dizer que Romário revela traição de Teixeira, ou seja, de certa forma,
concorda com Romário sobre ter havido, de fato, traição (a notícia é a
revelação). Se dissesse que Romário acusa Teixeira de traição, estaria atribuindo o uso do termo “traição” a Romário. A diferença é sutil, mas existe.
Embora não seja o foco deste boletim, convém observar que a segunda
parte do título (“e diz não se ver mais como político”) não condiz com
aquilo que o texto noticia, pois, do modo como está escrito, o leitor
entende que, hoje, Romário já não se vê como político, mas, no texto, ficamos sabendo que ele não se vê como político no futuro, ao término do mandato que ora exerce.
Nossa língua, como se vê, é plena de sutilezas, daí ser tão rica em formas de expressão.
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